quinta-feira, 5 de maio de 2011

POR QUE FAZER TERAPIA?



“De tudo, ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar... Portanto devemos: Fazer da interrupção um caminho novo... da queda um passo de dança... do medo, uma escada... do sonho, uma ponte... da procura, um encontro..."
Fernando Pessoa



Cada vez mais vemos e ouvimos, na mídia, novidades que vêm do mundo das ciências. Novos tratamentos, descobertas fabulosas, técnicas diversas e sofisticadas de diagnósticos, pílulas contra diversas patologias. Sim, a ciência nos espanta com suas incríveis descobertas! Porém, fica a reflexão: que dizer das dores da alma? Dores que vão além do que é físico? Como aliviar a dor de existir? Como encarar a vida como ela é? Como se aceitar e se posicionar diante de si e do mundo? O que é felicidade?

 Já não é de hoje que também vemos uma infinita produção de dicas e fórmulas, que mais parecem mágicas, para ser feliz. São diversos os títulos de “como ser feliz…”, tantos passos para isso ou aquilo, mas o que se vê são pessoas perdidas no meio de tanta informação e tantas descobertas.

A felicidade não está nos livros, nos genes ou nos neurônios. Cada um, cada pessoa tem sua bagagem, sua história, única e singular. O trabalho de análise ou a terapia proporciona uma escuta do discurso do sujeito e é a partir dessa escuta que se poderá ajudar cada um a descobrir a origem do seu sofrimento e, a partir de então, entrar em um processo de re-significação. Isso quer dizer que o sofrimento está relacionado a um determinado fato com uma carga de significações para o indivíduo e essas significações são absolutamente pessoais, construídas a partir de sua história.

Com isso, à medida que vive, o indivíduo vivência uma realidade que vai dando significações e ao mesmo tempo fantasiando a realidade que vivencia. Freud disse que “a fantasia é o reino intermediário que se inseriu entre a vida segundo o princípio de prazer e a vida segundo o princípio de realidade”. Já no conceito de Juan-David Nasio, a fantasia é como um pequeno romance de bolso que carregamos sempre conosco e que podemos abrir em qualquer lugar sem que ninguém veja nada nele, no ônibus, na lanchonete… e o mais frequentemente em situações íntimas. Acontece, às vezes, de essa fábula interferir entre nós e nossa realidade imediata. Por isso, muita gente vive, ama, sofre e morre sem saber que um véu sempre deformou a realidade dos seus laços afetivos.

Na psicanálise, os sintomas, os traços de caráter, as inibições, os afetos, as relações são efeitos de uma história. Não há o acaso, tudo tem um sentido. Um sintoma sempre diz algo. O termo sintoma vai desde febre até todas e quaisquer formas de expressão do sujeito, por exemplo: dificuldade nos relacionamentos, dificuldade para lidar com dinheiro, dificuldade com o sucesso, etc.

Ao fazer análise, a pessoa passa a entender e a descobrir por que faz o que faz, que não é vítima de um destino. Descobre que precisa se mostrar, se incluir e como age diante da sua vida, apropriando-se de sua história para deixar de viver como vítima.

Porém, além disso, cada dia mais o mundo parece cobrar mais de todos nós. Somos bombardeados com propagandas e mais propagandas nas quais nos tentam vender a idéia de que a felicidade está no comprar aquele carro, aquela roupa, naquela loja ou, ainda, consumir esse ou aquele produto, ter um corpinho magro, bombado, definido. Vivemos na época do imediatismo, do agora, das substâncias químicas que prometem de tudo, época dos excessos! 
 Quais a consequências? Não é só o nosso corpo que reclama, mas nosso psiquismo também. Surgem então, as patologias do mundo moderno, tais como estresse, síndrome do pânico, transtornos alimentares, transtornos de ansiedade, dependência química, para mencionar algumas.

E, na tentativa de se encontrar, as pessoas se perdem, se desvalorizam e se desrespeitam. Não se dão conta de que encontrar-se está diretamente ligado a encontrar-se dentro de si, no seu íntimo.

Existe uma crença que ainda prevalece no social de que um tratamento psicológico (seja terapia ou análise) é recomendado apenas para pessoas loucas e desequilibradas. Isto não é verdade, trata-se de um preconceito muito difundido por quem não sabe, de fato, o que é uma análise. Uma análise pode ser indicada a todas as pessoas que desejam se conhecer melhor, se questionar a respeito de diversas questões de sua vida, rever seu modo de ser e de se posicionar no mundo e nas relações sociais e afetivas. Além disso, pessoas que possuem uma infinidade de sintomas (como depressão, ansiedade, medos, pânico, baixa autoestima, uso abusivo de substâncias químicas) podem se beneficiar muito de um tratamento psicoterapêutico.

A análise também não apresenta restrições de idade. Crianças (desde as bem pequenas), adolescentes, jovens, adultos e idosos podem fazer o tratamento.

O resultado será a sensação de liberdade psíquica que vai além da liberdade de pensamento.


“A análise é árdua e faz sofrer. Mas quando se está desmoronando sob o peso das palavras recalcadas, das condutas obrigatórias, das aparências a serem salvas, quando a imagem que se tem de si mesmo torna-se insuportável, o remédio é esse. Pelo menos, eu o experimentei e guardo por Jacques Lacan uma gratidão infinita (…) Não mais sentir vergonha de si mesmo é a realização da liberdade (…). Isso é o que uma psicanálise bem conduzida ensina aos que lhe pedem socorro”.
Françoise Giroud.


Texto de Renne S. Nunes  (Maio de 2011)
Imagens do Google

Um comentário:

  1. Renne, adorei demais!!!
    vc escreveu de uma forma muito simples e de linguagem fácil.
    muito obrigada

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