terça-feira, 2 de agosto de 2011

POR QUE É TÃO DIFÍCIL LIDAR COM A ANSIEDADE



“O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam.”
– Guimarães Rosa



 Sentir nervosismo, ansiedade, medo, pânico, fobias… Essas são, de fato, emoções perturbadoras. Todos nós, em algum momento, sentimos nervosismo, medo ou preocupação, o que é algo normal, principalmente quando se refere a uma apresentação em público, passível de erros. Todavia, se tais emoções se tornam muito freqüentes, a ponto de atrapalhar nosso desempenho nas atividades, algo errado está acontecendo.
Em um conceito generalizado, definimos nervosismo como ansiedade. E, afinal, o que é ansiedade? A ansiedade faz parte de nós e age em serviço do nosso mecanismo de proteção. Sua tarefa é sinalizar que algum perigo está em iminência. Esse perigo pode ser externo ou interno. O perigo interno é muito mais difícil de ser detectado por referir-se ao mundo inconsciente, área de atuação da Psicanálise. Situações novas ou inesperadas acionam o medo. Fisicamente, a ansiedade e o medo se manifestam em forma de sudorese, taquicardia, respiração acelerada, dores pelo corpo, etc.
Nós, humanos, temos algumas necessidades básicas para um bom desenvolvimento, dentre elas, a necessidade de sermos reconhecidos em nossas habilidades e a necessidade de aprovação. Expor-se em público traz a tona essas necessidades, no entanto, existe o risco de não ser aceito ou não ser aprovado. Este último representa um grande perigo, o da rejeição, resultando em muita ansiedade e muito medo. Vale destacar que esse processo ocorre de forma inconsciente, ou seja, as pessoas não têm conhecimento destes mecanismos.


Aprofundando um pouco mais no conceito de ansiedade, para a Psicanálise, a ansiedade representa um sinal da presença de perigo no inconsciente. É percebida como resultado do conflito psíquico entre desejos inconscientes sexuais ou agressivos com as ameaças advindas do superego (censura, moral...) e da realidade externa. Em resposta a este sinal, o ego (o “eu” organizador em contato com a realidade externa) movimenta mecanismos de defesa para evitar que pensamentos e sentimentos inconscientes inaceitáveis emirjam para a percepção consciente.
Entretanto, além das questões envolvidas com os conflitos inconscientes de ordem sexual, há fatores estressores que podem desencadear uma série de emoções geradoras de ansiedade, como no caso da morte de um dos pais e/ou de pessoas muito próximas, a separação, a crítica e a humilhação, a violência, etc.
A bem da verdade, falar de ansiedade também é falar de algo que vai além do real: é falar de algo que tramita o campo da fantasia. Temos fantasias porque temos desejos que nos agitam no mais profundo de nós mesmos e queremos que tais desejos se satisfaçam imediatamente, sem levar em consideração a realidade. A fantasia é a forma que usamos para satisfazer inconscientemente o desejo (sexual ou agressivo). É uma curta cena dramática e muito rápida que se repete sem nunca ser nitidamente notada pela consciência. É, portanto, uma cena que não vemos mentalmente, cujos efeitos sentimos emocionalmente, sem saber que é a causa de nossas emoções.
Lidar com a ansiedade é algo particular de cada indivíduo: alguns se saem bem, outros não. Esses podem desenvolver até mesmo uma fobia social, o medo de eventos sociais como festas, encontros ou apresentações. Em uma dimensão mais crônica, podem até mesmo serem vítimas da síndrome do pânico.

 É importante que se procure ajuda profissional assim que surgirem, de forma insistente, os sintomas da ansiedade. Com o tratamento adequado, as pessoas poderão resgatar o controle de suas vidas, agregar qualidade a ela, elevar a autoestima, sem medo de errar e, se errar, compreender que não há problema nisso pois faz parte do universo humano. Além disso, por meio de um processo de psicoterapia psicanalítica, as pessoas poderão entrar em contato com algumas de suas fantasias a fim de lidar com suas emoções e, desta forma, encontrar a liberdade de pensamento.


Texto:
Renne dos Santos Nunes
Psicólogo


Fonte das imagens: GOOGLE