quinta-feira, 14 de julho de 2011

A DOR PSÍQUICA DE AMAR...


“A dor é um afeto que reflete na consciência as variações extremas da tensão inconsciente, variações que escapam ao princípio de prazer.”
– Nasio



Dor desmedida. Dor do nada, sem causa aparente. Dor de existir, que se reproduz de um vazio que clama em vão por uma palavra que possa simbolizá-la ou significá-la. Dor obscura, sem limites, cujo sentido está velado para aquele que a sente. Enquanto que para alguns é possível fazer um trabalho de luto, reconhecendo seu objeto de perda, trabalhando ou amenizando sua dor, para outros parece que isso é impraticável. Por não saberem exatamente o que perderam, entram no mundo obscuro e enigmático da melancolia.
Diferentemente da dor corporal em consequência de um ferimento, a dor psíquica acontece sem agressão aos tecidos, isto é, sua causa não se encontra na carne, mas na relação, no laço que há entre quem ama e seu objeto amado. Desta forma, define-se como dor psíquica, ou dor de amar, o afeto resultante da ruptura brutal do laço que nos liga ao ser ou à coisa amada. Tal separação brusca gera dor pela perda do objeto que é, neste momento, igualmente amado, odiado e angustiante.

Quanto mais se ama, mais se sofre. Perder o ser amado ou o seu amor dói tanto que leva a pessoa a mergulhar-se em seu desespero. A maior ameaça ao nosso sofrimento provém das nossas relações com os seres humanos. Atualmente, cada vez mais as pessoas se envolvem em relações vazias, quando não, muito intensas e efêmeras. A globalização está provocando uma transformação nas convivências, dissipando o aprofundamento das relações e gerando o isolamento das massas.
Com tanta instabilidade nas relações e com tantas relações frustradas, a dor psíquica se mantém em um movimento contínuo que leva a pessoa a seu esgotamento por se manter ocupada em amar desesperadamente a imagem do amado perdido. O sofrimento, na verdade, ocorre por se romper com a energia investida no objeto amado como sua fonte de satisfação, pois é no outro que depositamos nossas expectativas de felicidade. Entretanto, o conjunto de sentimentos que experimentamos pelo objeto ou pessoa amados são, decisivamente, determinados pela fantasia. Só captamos a realidade através da lente deformante da fantasia. Só a olhamos, escutamos, sentimos ou tocamos envolvidos no véu tecido pelas imagens nascidas da fusão complexa entre a imagem do outro e a imagem de nós mesmos.
A dor é uma experiência de solidão, mas é igualmente um apelo ao outro. Quando esse outro intervém, há um alívio na dor; ela se transforma em sofrimento. Ou seja, no sofrimento há a mediação do outro que alivia a dor. E o outro se faz presente pelo seu olhar que deseja, reconhece e ama. Penso que este é o meio mais humano de que dispomos para aprender a conviver com a dor, para além dos meios que a medicina moderna felizmente nos oferece. Quando se aprende a conviver com a dor, é a sua transformação em sofrimento que ajuda a consolar.
A dor e o sofrimento fazem parte de todos os seres humanos. Buscar alternativas de vida mais felizes, nem que seja na Lua, é o que torna a vida com sentido e o que nos leva a realizar os nossos sonhos. Os grandes feitos da humanidade e de cada indivíduo concretizam-se a partir da capacidade que se tem de sonhá-los e, consequentemente, realizá-los diante das condições da realidade, mesmo que isso nos provoque dor e sofrimento. A verdade é que viver intensamente é experimentar a alegria e a dor. A dor é a prova que nosso corpo é psíquico!


Texto:
Renne dos Santos Nunes
Psicólogo


Fonte das imagens: GOOGLE