segunda-feira, 30 de maio de 2011

AUTOCONHECIMENTO – O CAMINHO EM BUSCA DE SI MESMO


“O que reside atrás de nós e o que reside à nossa frente são de minúscula importância comparados ao que reside dentro de nós.”
– Oliver Wendell Holmes


Nós humanos parecemos seres complexos, difíceis de entender: ora estamos bem e felizes, ora parecemos nos sentir tristes ou insatisfeitos. Nossa autoestima oscila de acordo com as situações e principalmente em como nós nos sentimos diante de cada uma delas. Além dessas constantes oscilações, há pessoas que parecem ser mais seguras de si, mais estáveis emocionalmente enquanto outras parecem se perder, se desesperar quando algo acontece.
Ter controle sobre nossas emoções está ligado a ter um grau de autoconhecimento. Portanto, pergunte-se: O quanto você se conhece? Muito? Pouco?  A verdade é que a maior parte das pessoas acredita que se conhece, mas, de fato, se conhece muitíssimo pouco.


O autoconhecimento é essencial para que se desenvolva o amor por si próprio e fortaleça a autoestima. Porém, cada vez mais parece ser difícil alguém se conhecer interiormente quando sua busca está sempre no externo. As pessoas buscam cuidar da pele, mudar o corte do cabelo, comprar roupas, carros, eliminar alguns quilinhos, mas quase sempre esquecem que o caminho deve ser o contrário, de dentro para fora.
A baixa autoestima pode ser facilmente identificada quando se percebe características como: insegurança, inadequação, dificuldades de falar em público, perfeccionismo, dúvidas constantes, incerteza do que se é, sentimento vago de não ser capaz, de não conseguir realizar nada, não se permitir errar e demonstrar muita necessidade de agradar, ser aprovado e reconhecido pelo que faz e nem sempre pelo que é.


Buscar se conhecer não é uma tarefa fácil, exige tempo, paciência e humildade para reconhecer algumas características que, na grande maioria das vezes, não nos damos conta que estão presentes em nós. É cada vez maior o número de pessoas que procuram a ajuda da psicoterapia. Muitos vão em busca de um profissional psicólogo ou psicanalista porque anseiam por algum tipo de mudança que ainda não conseguem concretizar sozinhas ou mesmo não identificam.
Dividir o compromisso desta viagem rumo ao seu íntimo com o psicoterapeuta, dando-lhe o crédito de especialista, fornece ao paciente a segurança e o conforto tão necessários para iniciar esta jornada muitas vezes gratificante, mas intercalada por situações difíceis e desafiadoras.
O psicólogo é aquele que, com um olhar e uma escuta diferenciados, está preparado para acolher, guiar e acompanhar o sujeito numa estrada escura e desconhecida em busca de respostas para viver e superar uma situação de crise, desconforto, insegurança, recomeço, luto, tomada de decisão etc. A esse processo, dá-se o nome de autoconhecimento.
Aí está o primeiro passo para se alcançar o bem estar: exatamente no processo de conscientização, em que admitimos nossos entraves e dificuldades em mudarmos o que não gostamos, pois, a verdadeira mudança sempre se inicia em nós mesmos. Admitir nossas fraquezas, imperfeições é tão difícil quanto assumir responsabilidade pelo comando da nossa vida e por nossas escolhas, independentemente do quanto agrademos ou não as outras pessoas.
Neste movimento pelo autoconhecimento, o psicólogo assume, inicialmente, o papel de carregar a lanterna que clareia as encruzilhadas, as estranhezas e as belas paisagens desse percurso. Todavia, no decorrer do processo o paciente passa a adaptar a sua visão e a sua aceitação a este seu mundo nunca antes vasculhado. Com isso, passa a identificar e efetivar as mudanças que trarão a sua saúde psíquica e emocional, tornando-se capacitado, gradativamente, para manusear a lanterna, mas ainda sem abandonar a companhia do especialista.


Para quem se interessa em entrar num processo de psicoterapia, é importante ressaltar que o bom andamento do tratamento depende, entre outros fatores, da parceria de confiança e honestidade que se estabelece entre paciente e psicoterapeuta, assim como do compromisso do paciente em apropriar-se do seu processo de mudança e cura.
Por fim, devo afirmar que a busca pelo autoconhecimento é o único caminho efetivo para que a pessoa possa estar bem consigo própria, em primeiro lugar, e, a partir de então, com as outras pessoas. De tal modo, creio que grande parte do que chamamos de bem estar está associado a um processo em que a pessoa experimenta este sentido de estar bem a partir de suas próprias ações e de um maior conhecimento de si e do que almeja, honestamente, para sua própria vida.


Autor: Renne dos Santos Nunes
Psicólogo

Publicado no Itajubá Notícias em 25/05/2011
Imagens: GOOGLE



segunda-feira, 23 de maio de 2011

A VIDA É HONRA

Por Jorge Forbes



Na mesma semana, dois fatos contrários. Enquanto festejávamos a moça que, visitando o túmulo do seu pai, avisa a polícia de um assassinato cometido pela própria polícia, somos confrontados pelo moço que loucamente invade uma escola e mata mais de dez alunos, ferindo gravemente outros tantos, para ao final se suicidar.

 A alegria que nos deu o gesto da moça desapareceu na enxurrada de sofrimento provocada pela morte das crianças na idade do sonho. Fica uma pergunta no ar de todas as mídias: Por que? 

Por que ele fez isso, o que o motivou, com qual intenção, era psicótico, fiel de religiões bárbaras, possuído pelo demo, desorientado sexual, revoltado pela adoção, por que, por que? E toca-se a perscrutar seu passado, seus escritos, conversar com familiares, vizinhos e conhecidos, refazer seus percursos, tudo na tentativa de encontrar supostos elos lógicos que justifiquem o assassinato de tantas crianças. Pululam profetas do passado lutando levianamente pela audiência televisiva.

Cá entre nós - paremos um pouquinho - será que alguém seriamente pensa que existiria uma lógica que explicaria essa atrocidade? Uma determinação genética ou cultural assassina? Não me parece crível. O que me é mais convincente é que a sociedade, de tão assustada frente a seu próprio horror, tenta inventar respostas que justifiquem o injustificável, que a assegure que aquela pessoa é diferente de todas outras, enfim, que não tem nada a ver comigo, nem com você.

A presidente Dilma, no momento do ocorrido, declarou que o Brasil não estava acostumado a esse tipo de crime. É certo, não estava acostumado, mas, como se viu, não estava imune. Associamos essa modalidade criminosa mais à América do Norte e a alguns países da Europa, que nos antecederam em ocorrências. Vivemos uma era na qual, se não tomarmos cuidado, descambaremos para a banalização radical da vida. Longos amores já são desfeitos em curtos e-mails: - “Fui”. Pessoas que nos desagradam não merecem resposta, basta “deletar”, palavra nova que associa uma pessoa a uma letra: um toque e pronto, ela desaparece. Sim, sei que o abismo entre os exemplos é enorme, mas, insisto: que nome se dá a “matar” na gíria criminosa se não, “apagar”?

Para complicar ainda mais nosso estarrecimento, como não perceber a ânsia desses assassinos em que querem fazer de sua morte um acontecimento? Esse é um padrão que se repete em todos os casos: se tive uma vida deletável, terei uma morte memorável.

A solução não reside, por tudo isso, no aumento de segurança armada dos estabelecimentos públicos. Seria uma atitude que corresponde a uma visão muito reduzida do que nos ocorre. Pode acalmar, de imediato, angústias desesperadas, mas nem resvalará no problema que nos abate.

Voltemos à moça do cemitério e a seu gesto. Ela contrariou todas as ordens de salvaguarda pessoal que nos doutrinam nas delegacias e na mídia. – “Jamais responda a um atacante, não olhe para ele, abaixe a cabeça, entregue tudo para não entregar a vida, não fuja, fale docemente, chame de senhor, não defenda alguém que está sendo atacado, etc, etc.” A moça foi muito desobediente. Naquele cemitério vazio e afastado, ela, sozinha, homenageava seu pai morto. De repente um assassinato – e por policiais – na sua frente. Fugir, se amedrontar, se esconder em um túmulo vazio, como lhe ensinaram? Ao contrário, altivamente, cheia de orgulho humano, pois se trata muito mais de honra que de coragem, ela vai a um telefone público, liga para a polícia militar e descreve calmamente e em detalhes o que está presenciando. E ainda mais, ao ver a aproximação dos homens fardados é ela que toma a iniciativa de abordá-los e de inquiri-los sobre o que acabaram de fazer. Ela deve tê-los assustado, não por uma força maior que a deles, mas por agir em outro registro, aquele que lhe dizia que sim, é claro que ela podia fugir, mas viver não é sobreviver, salvar a pele não é salvar a vida, uma vida vai bem além da pele.

Imagine, caro leitor, uma sociedade composta de pessoas do tipo dessa moça, pessoas que não respondem às armas pelas armas, mas sim respondem às armas pelo constrangimento, que aposta que o pior assassino pode ser tocado em um ponto do constrangimento humano. Mesmo que difícil, não é utópico como o exemplo da moça o demonstra, e o primeiro passo é recuperarmos a noção que viver é muito mais que sobreviver e que não se vive, não se respira em uma sociedade de deletáveis.
 

Fonte: Revista Psique Ciência & Vida,  Ano VI, nº 65 - Maio 2011

quinta-feira, 5 de maio de 2011

POR QUE FAZER TERAPIA?



“De tudo, ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar... Portanto devemos: Fazer da interrupção um caminho novo... da queda um passo de dança... do medo, uma escada... do sonho, uma ponte... da procura, um encontro..."
Fernando Pessoa



Cada vez mais vemos e ouvimos, na mídia, novidades que vêm do mundo das ciências. Novos tratamentos, descobertas fabulosas, técnicas diversas e sofisticadas de diagnósticos, pílulas contra diversas patologias. Sim, a ciência nos espanta com suas incríveis descobertas! Porém, fica a reflexão: que dizer das dores da alma? Dores que vão além do que é físico? Como aliviar a dor de existir? Como encarar a vida como ela é? Como se aceitar e se posicionar diante de si e do mundo? O que é felicidade?

 Já não é de hoje que também vemos uma infinita produção de dicas e fórmulas, que mais parecem mágicas, para ser feliz. São diversos os títulos de “como ser feliz…”, tantos passos para isso ou aquilo, mas o que se vê são pessoas perdidas no meio de tanta informação e tantas descobertas.

A felicidade não está nos livros, nos genes ou nos neurônios. Cada um, cada pessoa tem sua bagagem, sua história, única e singular. O trabalho de análise ou a terapia proporciona uma escuta do discurso do sujeito e é a partir dessa escuta que se poderá ajudar cada um a descobrir a origem do seu sofrimento e, a partir de então, entrar em um processo de re-significação. Isso quer dizer que o sofrimento está relacionado a um determinado fato com uma carga de significações para o indivíduo e essas significações são absolutamente pessoais, construídas a partir de sua história.

Com isso, à medida que vive, o indivíduo vivência uma realidade que vai dando significações e ao mesmo tempo fantasiando a realidade que vivencia. Freud disse que “a fantasia é o reino intermediário que se inseriu entre a vida segundo o princípio de prazer e a vida segundo o princípio de realidade”. Já no conceito de Juan-David Nasio, a fantasia é como um pequeno romance de bolso que carregamos sempre conosco e que podemos abrir em qualquer lugar sem que ninguém veja nada nele, no ônibus, na lanchonete… e o mais frequentemente em situações íntimas. Acontece, às vezes, de essa fábula interferir entre nós e nossa realidade imediata. Por isso, muita gente vive, ama, sofre e morre sem saber que um véu sempre deformou a realidade dos seus laços afetivos.

Na psicanálise, os sintomas, os traços de caráter, as inibições, os afetos, as relações são efeitos de uma história. Não há o acaso, tudo tem um sentido. Um sintoma sempre diz algo. O termo sintoma vai desde febre até todas e quaisquer formas de expressão do sujeito, por exemplo: dificuldade nos relacionamentos, dificuldade para lidar com dinheiro, dificuldade com o sucesso, etc.

Ao fazer análise, a pessoa passa a entender e a descobrir por que faz o que faz, que não é vítima de um destino. Descobre que precisa se mostrar, se incluir e como age diante da sua vida, apropriando-se de sua história para deixar de viver como vítima.

Porém, além disso, cada dia mais o mundo parece cobrar mais de todos nós. Somos bombardeados com propagandas e mais propagandas nas quais nos tentam vender a idéia de que a felicidade está no comprar aquele carro, aquela roupa, naquela loja ou, ainda, consumir esse ou aquele produto, ter um corpinho magro, bombado, definido. Vivemos na época do imediatismo, do agora, das substâncias químicas que prometem de tudo, época dos excessos! 
 Quais a consequências? Não é só o nosso corpo que reclama, mas nosso psiquismo também. Surgem então, as patologias do mundo moderno, tais como estresse, síndrome do pânico, transtornos alimentares, transtornos de ansiedade, dependência química, para mencionar algumas.

E, na tentativa de se encontrar, as pessoas se perdem, se desvalorizam e se desrespeitam. Não se dão conta de que encontrar-se está diretamente ligado a encontrar-se dentro de si, no seu íntimo.

Existe uma crença que ainda prevalece no social de que um tratamento psicológico (seja terapia ou análise) é recomendado apenas para pessoas loucas e desequilibradas. Isto não é verdade, trata-se de um preconceito muito difundido por quem não sabe, de fato, o que é uma análise. Uma análise pode ser indicada a todas as pessoas que desejam se conhecer melhor, se questionar a respeito de diversas questões de sua vida, rever seu modo de ser e de se posicionar no mundo e nas relações sociais e afetivas. Além disso, pessoas que possuem uma infinidade de sintomas (como depressão, ansiedade, medos, pânico, baixa autoestima, uso abusivo de substâncias químicas) podem se beneficiar muito de um tratamento psicoterapêutico.

A análise também não apresenta restrições de idade. Crianças (desde as bem pequenas), adolescentes, jovens, adultos e idosos podem fazer o tratamento.

O resultado será a sensação de liberdade psíquica que vai além da liberdade de pensamento.


“A análise é árdua e faz sofrer. Mas quando se está desmoronando sob o peso das palavras recalcadas, das condutas obrigatórias, das aparências a serem salvas, quando a imagem que se tem de si mesmo torna-se insuportável, o remédio é esse. Pelo menos, eu o experimentei e guardo por Jacques Lacan uma gratidão infinita (…) Não mais sentir vergonha de si mesmo é a realização da liberdade (…). Isso é o que uma psicanálise bem conduzida ensina aos que lhe pedem socorro”.
Françoise Giroud.


Texto de Renne S. Nunes  (Maio de 2011)
Imagens do Google