quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mais rótulo do que diagnóstico...

A campanha da CCHR critica o exagero de diagnósticos psiquiátricos que as crianças e adolescentes recebem frequentemente na atualidade: transtornos de deficit de atenção e hiperetividade, transtorno de humor e de personalidade, fobia social e até depressão. Muitas vezes o que é visto como patologia é justamente o ponto onde a criança exerce sua singularidade e sua genialidade.

20 milhões de crianças são rotuladas com "transtornos mentais" que se baseiam unicamente em uma lista de comportamentos. Não há mapeamento cerebral, radiografias, exames genéticos ou de sangue que mostram que são doentes mentais, no entanto, à essas crianças são prescritas drogas psiquiátricas perigosas que põem em risco suas vidas.


Assista o vídeo!


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A INVEJA


                                  Trecho do filme: DÚVIDA
A inveja é um sentimento que expressa um comportamento associado ao ato de dissimular, fingir, falsear e mentir. É um sentimento negativo e destrutivo. A inveja traz consigo a devastação e a catástrofe. Ao longo da história da humanidade, o ser humano aprendeu a se precaver contra ela. Cada cultura desenvolveu recursos na forma de amuletos, já que ela está associada ao “mau olhado”, à má sorte. Assim, a figa é colocada nas portas das casas ou nas roupas dos recém nascidos como forma de evitar quebranto. Surgem as benzedeiras que se utilizam de ervas como arruda; espada de São Jorge ou Santa Bárbara e a guiné para evitar esse mal. A maioria dos ritos africanos está voltada para cortar esse mal. Amuletos; plantas; defumações; danças religiosas; dentes de elefantes; metais, pulseiras e outros, são utilizados com esse fim.
Melanie Klein em seu livro “Inveja e Gratidão” classifica a “inveja como um sentimento raivoso, causado pelo fato de outra pessoa possuir e desfrutar algo desejável por mim.”
No fundo da inveja existe uma profunda baixa estima, encouraçada por um orgulho que visa a fornecer uma ilusão de onipotência. Essas pessoas se consideram as melhores, o que fazem geralmente é espetacular e acreditam que tudo o que tocam viram ouro. São pessoas normalmente classificadas como orgulhosas, arrogantes, onipotentes e... solitárias.
Inveja é diferente de cobiça. Na inveja, por exemplo, deseja-se aquilo que o outro tem e que eu admiro, mas de uma maneira muito particular: se eu tenho uma roseira bonita, o invejoso deseja a MINHA roseira, ou deseja que a roseira MORRA, para ninguém tê-la. Aquele que cobiça, deseja ter UMA roseira, mas não a minha. De uma forma geral: o invejoso deseja obter ou destruir aquilo que eu tenho de bom. Aquele que cobiça deseja algo igual ao que possuo, mas não exatamente o que possuo.
O mecanismo básico responsável pelos sentimentos do invejoso é a comparação e esta é uma forma de aprendizado muito comum em nossa sociedade. Desde pequenos ouvimos de nossos pais: “seu irmão é mais inteligente”, “fulano é mais esforçado…”. Nosso sistema de ensino é todo voltado para a competição, onde se valoriza o primeiro lugar e não as competências e realizações de cada um. Nossa sociedade é competitiva e comparativa. Logo, a inveja é sentida e apreendida por nós precocemente.
Guernica - Pablo Picasso
O sucesso de alguém passa a ser sentido para o invejoso como ofensa pessoal, pois, o comportamento exteriorizado é o da competição. Competição interna, feita consigo mesmo, no seu inconsciente. Isso gera infelicidade e tristeza que o invejoso não pode admitir. Ele precisa sempre criticar ou tirar o brilho do sucesso do outro. A inveja tem uma grande máscara que é o despeito. “Também... teve sucesso porque seu pai o ajudou... olha a família que ele tem”.
Para que se estabeleça a inveja é necessário que ocorram duas situações: não tolerar o sucesso do outro e sentir um enorme prazer pela mágoa do outro. Na inveja o alvo é o outro, mesmo que sua situação financeira e posição social sejam inferiores. Passamos a ser prisioneiros da vida do outro. Sonhamos com sua destruição... destruição essa que nos dá um prazer enorme. A destruição do outro passa a ser nossa fonte de prazer.
Chegamos ao absurdo até de invejar comportamentos desonestos, achando que vale a pena para ser bem sucedido. Isto faz uma cisão no comportamento e crescimento de nossa sociedade. A inveja torna o ser humano um grande predador em busca do TER. A crença e o sentimento de TER e fazer para que o outro não tenha, acaba causando profundas diferenças sociais que já estamos sentindo no processo de evolução da humanidade.
 
A gratidão, ao contrário da inveja, é um sentimento que permite que se tenha acesso às coisas boas do outro. Aquele que é grato reconhece no outro algo que falta em si e nem por isso tem uma baixa estima. Muito pelo contrário. Feliz aquele que sabe suas faltas e sabe buscar isso no outro, mas não de uma forma destrutiva, mas como resultado das trocas normais de um relacionamento.
Quando nos relacionamos em sociedade, no trabalho, num namoro ou casamento buscamos que os outros nos complementem em nossas faltas básicas. Podemos, nesse sentido, entregar para o outro o fruto de nossos dons que podem cobrir a falta do outro, e o outro, da mesma forma conosco, tornando a vida mais feliz. Um exemplo simples seria um casal em que um é desorganizado e decidido, e o outro, organizado e indeciso. Juntando tudo, temos um bom casal, desde que haja respeito mútuo em relação às diferenças. Nesse caso, pode aparecer a gratidão.
 O invejoso não consegue isso, pois no caso do casal acima, não poderia haver troca. Caso o desorganizado seja o invejoso, esse procurará usufruir da organização do outro sem nada entregar em troca. E em uma ocasião muito comum, ele procurará exigir mais do que o outro pode dar. A partir daí ele pode anular tudo o que o outro tem de bom. Essas relações desagregam.
O mundo é um farto banquete a nossa disposição. Quando não conseguimos usufruir dessas coisas boas, a inveja muitas vezes é a vilã dessa situação.
Para finalizar, eis um soneto de Machado de Assis, Círculo Vicioso:

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume!
Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?